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Janela para a Amazônia: uma criadora ribeirinha mostra como é a vida no meio da floresta

Bruno Telloli/Maio de 2022Compartilhar

O YouTube se tornou uma janela para o Brasil. Ou melhor, para todos os Brasis. Isso porque quando olhamos tendências ou canais que se destacam na plataforma, fica nítido o aumento de interesse sobre culturas, regiões e hábitos que normalmente não são próximos ao dia a dia da população que mora nos grandes centros urbanos.

Um ótimo exemplo é a vida dos ribeirinhos no interior da Amazônia. O canal Ribeirinha da Amazônia Fabiola Alves Pedrosa, criado pela própria Fabiola, cresceu de forma vertiginosa nos últimos anos, mesmo com severas dificuldades de produção.

Em apenas dois meses, o canal Ribeirinha da Amazônia alcançou 2 milhões de views.

Criado em março de 2021, em dois meses o canal já havia alcançado 2 milhões de views, número que ultrapassava os 4 milhões em junho de 2021. Atualmente, seu vídeo com recorde de visualizações superou a marca de 7,6 milhões.

Compreender o apelo do conteúdo produzido por Fabiola é uma ótima oportunidade para grandes marcas se aproximarem e analisarem as demandas de um público em transformação. Além disso, pode ser uma chance de entender como menos pode ser mais. Veja a história da Fabiola.

O apelo da vida ribeirinha

Assistir ao vídeo

Aos 21 anos, Fabiola Alves Pedrosa mora na comunidade ribeirinha de Santa Luzia do Baré, próximo ao Lago Amanã. Situada na região central do estado do Amazonas, Santa Luzia está a duas horas de voadeira (um barco rápido) de Tefé, centro urbano mais próximo. Tefé, por sua vez, está a mais de 500 quilômetros de Manaus, capital do estado.

A descrição geográfica ajuda a entender o quão isolada é a região onde Fabiola mora. E esse estilo de vida particular despertou o interesse de um público mais amplo. Tudo começou em 2019, quando outro YouTuber, Carlos Viríssimo, viajou à comunidade onde ela mora e produziu uma série de vídeos sobre os moradores. Fabiola apareceu em alguns deles, mas na época morava e trabalhava em Manaus.

Mostrando sua rotina e as tarefas do dia a dia, Fabiola conquistou uma audiência cativa.

Com a pandemia, no entanto, ela perdeu o emprego e voltou para Santa Luzia. Foi a deixa para criar o próprio canal. Mostrando sua rotina e as tarefas do dia a dia, Fabiola conquistou uma audiência cativa. Vídeos como os que mostra como descascar castanha do Brasil e fazer bolos de massa (5,7 milhões de views), a retirada de peixes de uma rede malhadeira (4,5 milhões de views) e limpando um tambaqui (7,6 milhões de views) atraem tanto pela simplicidade quanto pelo retrato de uma realidade muito particular.

Fabíola também contribuiu com melhorias para sua comunidade. Um exemplo disso foi quando, por ter acesso a uma rede elétrica instável, ela fez uma parceria com uma empresa de painéis solares.

Há conteúdos ainda sobre atividades corriqueiras para a criadora, como lavar roupas, coletar água da chuva e viajar até Manaus. O que mais chama atenção, no entanto, é como ela convida a audiência a compreender sua realidade não apenas como algo curioso, mas como um estilo de vida digno de respeito — e que carece de reconhecimento e apoio do poder público.

Assistir ao vídeo

Hoje com 275 mil inscritos no canal e 68 milhões de visualizações somadas em seus vídeos, Fabiola é uma produtora de conteúdo que aproveitou o poder do YouTube para fazer de seu canal uma ferramenta de transformação. Em tempos nos quais ribeirinhos e outras populações minoritárias do país enfrentam dificuldades, ao mostrar seu estilo de vida de perto, Fabiola conscientiza seu público de que ela e os seus merecem ser protagonistas da própria história.

O que sua marca pode aprender com isso

O sucesso do canal Ribeirinha da Amazônia Fabiola Alves Pedrosa é um exemplo do quão universal podemos ser ao falarmos com autenticidade da nossa realidade. E também evidencia como há um público imenso, com interesses diversos — inclusive por assuntos totalmente diferentes de suas vivências. É preciso focar em outros mercados, para além dos hegemônicos.

O que chama a atenção do público do YouTube, como falamos aqui, está em contínua transformação. As condições limitadas de produção de conteúdo com que Fabiola trabalha confirmam outro aspecto do interesse dessa audiência: legitimidade, espontaneidade e a essência do conteúdo são o que, ao final, realmente importam.

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Bruno Telloli

Culture & Trends Manager, BrasilYouTube

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